post-image

É possível ser imparcial?


Nesse post discutiremos o que quer dizer ser imparcial. Devemos ser imparciais ao discutir um tema pelo qual concordamos com um lado mais do que com o outro? Para motivar a discussão, mostrarei como exemplo uma conversa que tive com uma amiga, discutindo minha tentativa de ser imparcial.

Introdução

Faz praticamente um mês que remodelei o meu site, com o objetivo principal de permitir que eu escrevesse posts de forma mais eficiente, podendo incluir análises estatísticas facilmente. Mas além disso, outro objetivo era tentar escrever sobre temas atuais de forma imparcial. Antes de continuar, vamos definir claramente o que significa imparcialidade segundo o dicionário Webster’s:

Imparcial é não favorecer um mais que o outro. Tratar todos da mesma forma.

Claramente não é fácil ser imparcial. Tudo indica que é praticamente impossível. Eu já tinha a ideia de ser imparcial antes, mas não tinha pensado no que queria dizer no contexto do escritor que tem como objetivo comunicar informações a outras pessoas. Comecei a pensar nisso por causa de uma conversa com uma amiga. Algumas semanas atrás escrevi um post sobre viés de confirmação, e enviei o link para ela ler. A conversa se iniciou com uma dúvida dela sobre algo que escrevi no post sobre racismo/machismo. Mas ao longo da conversa, comecei a pensar mais profundamente sobre o tema. Dessa conversa surgiu a ideia deste post. Achei a conversa tão interessante que resolvi disponibilizá-la aqui, na íntegra (ela ocorreu no Whatsapp). Não editei nem erros nem palavrões. Após essa conversa, fiz algumas alterações no texto do post a qual nos referimos. Não tenho mais a versão original que estamos discutindo na conversa.

A conversa

Se você achar tedioso ler a íntegra da conversa abaixo, pule para a seção seguinte.

Amiga 8/21, 21:49
e o do futebol? vc publicou?
Neale El-Dash 8/21, 21:53
Sim. Tô tentando fazer 1 por semana
Neale El-Dash 8/21, 21:54
O de amanhã já tá lá também. Não fiquei tão feliz com ele, mas enfim... Rsrsrsrs
Amiga 8/21, 21:55
Vou olhar... e tentar entender tua infelicidade...rsrsrs
Neale El-Dash 8/21, 21:56
Rsrsrs... Blz... Vê o que vc acha
Amiga 8/21, 22:21
bem.. ainda nem consegui me ater de fato ao viés de confirmação... to tentando entender wtf você quis dizer com essa afirmação : Machismo e racismo, por exemplo, envolvem estereótipos que muitas vezes são sustentados por algum tipo de viés de confirmação.
Neale El-Dash 8/21, 22:26
Por exemplo racismo. A pessoa acha que outra raça, por exemplo, negro é inferior.
Neale El-Dash 8/21, 22:27
Tipo pensa que são intelectualmente inferiores..
Neale El-Dash 8/21, 22:27
Aí ele só enxerga fatos que na cabeça dele corroboram isso.
Neale El-Dash 8/21, 22:27
Só vê o que quer...
Neale El-Dash 8/21, 22:27
Não faz sentido?
Neale El-Dash 8/21, 22:29
Pessoas de todas as raças fazem coisas imbecis, por exemplo..
Neale El-Dash 8/21, 22:30
O racista só lembra das coisas imbecis que negros fizeram..
Amiga 8/21, 22:32
Então, quando li não pensei nisso, e com o desenrolar do texto, lendo sobre o viés de confirmação, me pareceu que você poderia achar que quem sofre a opressão, no caso machismo ou racismo, poderia estar apenas achando que sofre.
Amiga 8/21, 22:33
Vc não prosseguiu a discussão então fiquei na duvida
Amiga 8/21, 22:34
Olha a frase imediatamente anterior: Existem muitas situações onde não existe evidência para corroborar a opinião de uma pessoa, porém com uma visão seletiva do mundo, ela se sente justificada.
Amiga 8/21, 22:34
acho que foi essa frase que me levou a entender assim
Amiga 8/21, 22:35
confesso que fiquei meio chocada na hora... ainda bem que não tinha nada a ver
Neale El-Dash 8/21, 22:35
Não pensei nisso, mas imagino que dá pra contextualizar da mesma forma, com cuidado, claro. Mas pode ser um coisa do tipo copo cheio ou copo vazio. Não é que não existem evidências de opressão, por exemplo. Mas por causa do viés a pessoa pode se sentir mais oprimida do que é. Ou menos. É uma questão relativa..
Neale El-Dash 8/21, 22:36
Mas você acha que tem que alterar? . Falei de uma forma muito genérica.
Amiga 8/21, 22:40
então, vou falar no caso do racismo, em algum grau, pra mim, mulher branca, pode parecer relativo. Mas eu não posso falar pq quem teve sua vida pautada por uma opressão historicamente bem caracterizada. Com relação ao machismo, me sinto mais a vontade para falar. Eu acho que é um terreno bem sensível que pode ser bem mau interpretado
Amiga 8/21, 22:40
então, não sei... mas quando li sem saber o que vc estava querendo dizer, achei bem estranho
Amiga 8/21, 22:42
realmente não fica claro o que vc quer dizer.. já li e re-li varias vezes
Neale El-Dash 8/21, 22:42
Mas vc leu invertido. Eu nunca falei sobre quem sofre racismo, mas de quem comete racismo..
Neale El-Dash 8/21, 22:43
De repente colocar a palavra 'comete' ?
Amiga 8/21, 22:43
sim, agora eu sei disso, e é justamente o que estou falando, que isso não está claro
Amiga 8/21, 22:44
no texto
Amiga 8/21, 22:45
comete ou colocar machismo e racismo como formas de opressão, pq dai o teu interlocutor já saca que se vc de fato considera isso uma forma de opressão, não pensaria no contrario
Neale El-Dash 8/21, 22:50
Mas isso é a dificuldade de ser imparcial. Mas não acho que eu tenho que falar não sou racista pra falar o que eu quero. Tenho que tentar ver os dados sem tomar lados, até para falar de lados absurdos como racismo. Ainda mais porque o texto não tem nada haver com racismo, foi só um exemplo. Você acha que é um racionalização muito insensível? Rsrsrs
Amiga 8/21, 22:51
Acho...rsrsrs
Neale El-Dash 8/21, 22:52
A ver... Não haver.. Rsrsrsrs
Neale El-Dash 8/21, 22:52
Rsrsrs... Com certeza é
Amiga 8/21, 22:53
pra ser honesta... eu acho que foi um exemplo inócuo, se vc le a frase anterior e a posterior sem essa falando do machismo, vc percebe que ela não faz muita falta
Amiga 8/21, 22:54
Principalmente pq não tem nada a ver com os resto do post, em que vc faz questão de explicar muito bem o que quer dizer e deixar tudo muito claro
Neale El-Dash 8/21, 22:54
No fundo foi pra mostrar o extremo do que pode acontecer por causa do viés..
Neale El-Dash 8/21, 22:54
. Vou pensar sobre isso..
Amiga 8/21, 22:55
mas assim.. eu sou meio exagerada né? Então vê aí.
Neale El-Dash 8/21, 22:55
Acho que eu falar de extremos no texto ajuda.. Melhor do que comete... O que acha?
Neale El-Dash 8/21, 22:56
Pensa que quero ser IMPARCIAL... Rsrsrsrs
Amiga 8/21, 22:56
Acho que fica bem melhor
Amiga 8/21, 22:58
machismo e racismo não é questão de imparcialidade... talvez seja isso que esteja tentando te dizer
Neale El-Dash 8/21, 23:00
Pode ser. Mas quando começa a ser importante a imparcialidade? Quais temas posso ser imparcial ou não? Não acho que existe um linha tão clara.. Política? Hoje em dia, no Brasil, tudo ficou muito extremo.
Neale El-Dash 8/21, 23:00
Tô adorando esse papo ... Rsrsrsrs
Amiga 8/21, 23:03
Concordo... mas veja, nesse tipo de post que vc se propõe, é fundamental ser imparcial, e você consegue. O ponto aqui é mais em relação a que o que está escrito não deixa claro o que vc quis dizer
Neale El-Dash 8/21, 23:04
Ok. Extremos arruma então, certo?
Amiga 8/21, 23:06
pq vc explicou uma coisa eu havia entendido outra quando li. Na verdade eu entendi mas não acreditei que vc estivesse dizendo o que eu havia entendido pq não consegui te imaginar com essa linha de raciocino e resolvi perguntar. Mas se é alguem que não te conhece nada, vai embora e nunca mais volta.. ahahaha
Amiga 8/21, 23:06
sim
Amiga 8/21, 23:07
e no fundo vc quer mais visitantes pro seu site, mais leitores e tal.. então arruma logo issodaê

RMarkdown

Nesse post não faço nenhuma análise de dados no R, mas eu tinha outro desafio. Queria formatar um texto extraído da minha conversa no Whatsapp para ficar parecido com uma conversa do próprio Whatsapp. Como vou usar o texto formatado no meu site, vou utilizar o Rmarkdown pra gerar um HTML1 customizado, utilizando um arquivo CSS2 para formatar o diálogo.

O arquivo no formato css, necessário para rodar o Rmarkdown, pode ser baixado aqui. O conteúdo desse arquivo é bem simples. Não vou entrar em detalhes de como o CSS funciona pois existem diversos tutoriais na internet. Até porque, honestamente, nunca consigo que ele faça exatamente o que eu quero. Sempre acabo aceitando algo inferior ao que tinha imaginado inicialmente.


.zap_container{
    width: 70%;
    margin: 0 auto;
  }

.zap_texto{
  padding-top: 20px;
}

div.amiga .zap_pessoa{
  position: relative;
  float: right;
  width: 200px;
  border:2px solid gray;
  color: darkgray;
  padding: 2px;
  font-size: 12px;
  /* font-family: "Comic Sans MS", "Comic Sans", cursive; */
    font-family: "Georgia", cursive;
  margin-top:-20px;
  margin-right:20px;
  border-radius: 5px;
  font-weight: bold;
  background:white;
}

div.neale .zap_pessoa{
  position: relative;
  float: left;
  width: 200px;
  border:2px solid gray;
  color: darkgray;
  padding: 2px;
  font-size: 12px;
  /* font-family: "Comic Sans MS", "Comic Sans", cursive; */
    font-family: "Georgia", cursive;
  margin-top:-20px;
  margin-left:20px;
  border-radius: 5px;
  font-weight: bold;
  background:white;
}

.neale{
  position: relative;
  float: left;
  width: 65%;
  border:2px solid gray;
  color: gray;
  padding: 3px;
  margin: 20px;
  font-size: 12px;
  /* font-family: "Comic Sans MS", "Comic Sans", cursive; */
    font-family: "Georgia", cursive;
  margin-left:20px;
  background:lightgreen;
  border-radius: 5px;
  font-weight: bold;
  text-align: left;
}

.amiga{
  position: relative;
  float: right;
  width: 65%;
  border:2px solid gray;
  color: gray;
  padding: 3px;
  margin: 20px;
  font-size: 12px;
  /* font-family: "Comic Sans MS", "Comic Sans", cursive; */
    font-family: "Georgia", cursive;
  margin-left:20px;
  background:lightyellow;
  border-radius: 5px;
  font-weight: bold;
  text-align: right;
}

O Rmarkdown é um tipo de arquivo que permite gerar relatórios que combinam tanto texto quanto código do R. Ele também permite que códigos em Latex e HTML sejam incluídos no texto. Por exemplo, esse é o tipo de arquivo que utilizo pra gerar os posts do site. Ele já é extremamente flexível, porém se você utilizá-lo com um arquivo css customizado, ele consegue ser ainda mais flexível, utilizando qualquer formatação possível num arquivo em HTML tradicional. Para que o Rmarkdown utilize o arquivo de css denominado whatsapp_style.css, basta incluir as seguintes linhas de código no YAML do arquivo:

output:
     html_document:
         css: ‘whatsapp_style.css’

O arquivo texto com a conversa do whatsapp pode ser baixado aqui. Para gerar esse arquivo, apenas selecionei os trechos de interesse no próprio Whatsapp, copiei o texto, e enviei para o meu email. Para rodar o código no seu computador, primeiramente use o código no code chunk abaixo para baixar os arquivos necessários.

td = tempdir()

#download do arquivo css
url.css <- "http://www.pollingdata.com.br/blog//blog/imparcialidade - 02-09-2019/whatsapp_style.css"
file.css = paste0(td,"\\whatsapp_style.css")
download.file(url.css,file.css,method="curl")

#download do arquivo txt
url.whats <- "http://www.pollingdata.com.br/blog//blog/imparcialidade - 02-09-2019/conversa_whatsapp.txt"
file.whats = paste0(td,"\\conversa_whatsapp.txt")
download.file(url.whats,file.whats,method="curl")

Feito isso, basta rodar o código no code chunk abaixo como um arquivo Rmarkdown no RStudio para gerar um html como neste post. O segredo de manter o css separado do html é criar classes e/ou ids no código do html que possam ser facilmente referenciados no css. No código de Rmarkdown abaixo isso é feito, onde os tags do html recebem as classes zap, zap_pessoa e zap_texto. Se quiser entender melhor o impacto do css na formatação do html, apague alguns trechos do css e gere novamente o html.

Atenção: Antes de executar o Rmarkdown abaixo, troque ’’’ por ```. Também será necessário incluir o diretório onde estão localizados os arquivos txt e css nos nomes dos arquivos abaixo. Para evitar potenciais problemas, se você baixar esse arquivo aqui, alterar sua extensão para “Rmd” ao invês de “Rmd_,”e colocá-lo no mesmo diretório dos outros dois arquivos (txt e css) tudo deve funcionar corretamente.

---
output:
  html_document: 
    css: 'whatsapp_style.css'
---


'''{r whatsapp, include=TRUE, echo=FALSE, warning=FALSE,message=FALSE, results='asis'}

require(shiny)
require(tidyverse)

zap <- read.delim("conversa_whatsapp.txt",header = FALSE)

zap <- zap %>% mutate(
  hora = str_extract(V1,"(?<=\\[).*(?=\\])"),
  pessoa = str_squish(str_extract(V1,"(?<=\\])[^:]*(?=:)")),
  texto = str_squish(str_extract(V1,"(?<=(h|a):).*$"))
) %>% select(-V1)

gerar_zap <- function(hora,pessoa,texto){
  
  if (str_detect(texto,fixed("http://www."))){
    texto <- a(href=texto,texto,target="_blank")
  }
  
  div(class=paste0("zap ",ifelse(pessoa == "Amiga","amiga","neale")),
    div(paste0(pessoa," ",hora),class="zap_pessoa"),
    div(texto,class="zap_texto")
  )
}

zap_html <- div(class="zap_container",pmap(zap,gerar_zap))
zap_html


'''

Do código mostrado acima no arquivo do Rmarkdown, discutirei apenas a função pmap do pacote purrr. Ela é uma generalização das funções map e map2. Essa função é muito útil, pois ela permite ao usuário aplicar uma função utilizando cada linha de um dataframe como os argumentos de uma função. Na sua invocação mais sucinta, os nomes das colunas do dataframe têm que ser iguais aos nomes dos argumentos da função. Um detalhe importante: só podem existir no dataframe colunas com os mesmos nomes dos argumentos da função sendo chamada. Até entender isso tive várias brigas com o R por causa dessa função. Veja o exemplo abaixo para visualizar o problema.

#função teste
teste_pmap <- function(um,dois,tres){
  paste0(um,"-",dois,"-",tres)
}

#df correto
df.correta <- tibble(
  um = 1:10,
  dois=2*um,
  tres=3*um
)

df.correta$pmap <- pmap(df.correta,teste_pmap)
print(as.character(df.correta$pmap))
##  [1] "1-2-3"    "2-4-6"    "3-6-9"    "4-8-12"   "5-10-15"  "6-12-18"  "7-14-21" 
##  [8] "8-16-24"  "9-18-27"  "10-20-30"
#df errado
df.errado <- tibble(
  um = 1:10,
  dois=2*um,
  tres=3*um,
  quatro=4*um,
)

df.errado$pmap <- pmap(df.errado,teste_pmap)
## Error in .f(um = .l[[1L]][[i]], dois = .l[[2L]][[i]], tres = .l[[3L]][[i]], : unused argument (quatro = .l[[4]][[i]])


Ética jornalística

Acredito que o ponto mais interessante da conversa acima é quando minha amiga diz:

“Deve colocar machismo e racismo como formas de opressão, pq dai o teu interlocutor já saca que se vc de fato considera isso uma forma de opressão, não pensaria no contrario.”

Ou seja, a sugestão da minha amiga é deixar claro que eu acho racismo e machismo errados, porque aí o leitor, que provavelmente também acha isso, vai se identificar mais comigo e com a argumentação. O ponto dela é que existem alguns temas sobre os quais não devemos ser imparciais. Levei 5 minutos pra responder porque fiquei pensando sobre isso. Acho que uma das grandes questões aqui é que existem várias definições para imparcial que se sobrepõem com a definição de neutro. Muitas vezes elas são utilizadas como sinônimos. Mas elas não necessariamente têm o mesmo significado. Um dos significados de neutro é ser indiferente, não saber ou não vêr ou não entender a importância das diferenças. Fazendo uma analogia com religião, é como os agnósticos, que não acreditam nem desacreditam na existência de Deus. Não é uma questão importante pra eles. De fato, ninguém deveria ser neutro com relação a nenhum tipo de opressão, como por exemplo, racismo ou machismo.

Imparcial, por outro lado, se refere a quem age de forma a não favorecer nenhuma das partes. Não quer dizer que ele é indiferente com relação ao tema. Quando ouvimos falar de um assunto pela primeira vez, talvez sejamos neutros. Mas quando aprendemos mais sobre esse tema, provavelmente formaremos uma opinião. Não somos mais neutros. Mesmo não sendo neutro com relação a um assunto, não quer dizer que não posso tratá-lo com imparcialidade. Voltando a conversa com a minha amiga, mesmo sendo contrário a essas formas de opressão, entendo que não é necessário me posicionar como contrário a elas no texto, porque meu objetivo não é expressar a minha opinião, mas sim dar argumentos para que o leitor forme a sua opinião.

E isso me levou a pensar sobre ética jornalística. Como os jornalistas lidam com essas questões? Uma busca rápida no google mostra que a questão da imparcialidade é central nas discussões sobre ética jornalística. Ela propõe que o profissional não deve tomar partido, mas passar a informação para o público com o máximo de verossimilhança. Porém parece ser consenso que a imparcialidade é um ideal inatingível na imprensa. Apesar do jornalista profissional ter a ética e a moral como pilares de sua vida profissional, ele acaba sendo parcial nos textos que escreve.

A emissora de televisão BBC (British Broadcasting Channel) trabalha com um conceito descrito como imparciliadade devida. Ao buscar informações o jornalista provavelmente formará uma opinião sobre o tema; não será mais neutro. Porém isso não significa que ele deve defender essa opinião. Ele deve ser imparcial, promovendo o debate de opiniões diferentes para que os telespectadores formulem suas próprias convicções.

Conclusão

A discussão sobre imparcialidade tem que ir além do fato de que ela é um ideal inatingível. A distinção entre passar a opinião do autor à frente ou permitir que o leitor forme a dele é extremamente relevante. Quanto mais penso sobre isso, mais claro fica pra mim que esse é o X da questão.

Vou tentar racionalizar, de maneira um pouco exagerada, a escolha entre passar sua opinião ao leitor ou deixar que ele chegue a sua própria conclusão. Imagine que você estudou um assunto a fundo, e acredita que já viu todas as evidências relevantes. Depois que você formou a sua opinião, passa a acreditar que tem um lado certo e um lado errado. Nesse cenário, porque não passar adiante apenas a sua opinião, visto que é a verdade? Porque outras pessoas têm que passar pelo mesmo processo que você até descobrir por si só o que você já sabia? Não é melhor catalizar o processo e já passar a verdade adiante?

Acho que é dificil perceber, mas a questão pode ser dinâmica. Novas evidências podem surgir. Ou porque novos experimentos foram realizados, ou porque você não tinha visto algumas informações que já estavam disponíveis. Newton estava certo por séculos até Eistein aparecer. Mas a verdade é que não precisa ser algo tão drástico. A ciência é sobre coletar evidências e testar novas hipóteses. O ponto é que agora você terá que re-avaliar sua posição sobre o tema, à luz das novas evidências. E a sua opinião pode se alterar. Se você apenas emitiu a sua opinião ao leitor, terá que atualizá-la. Se você deixou o leitor decidir por si só, o próprio pode re-avaliar sua posição com as novas evidências. É como aquele provérbio chinês: “Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar e ele se alimentará pelo resto da vida”.

Mesmo nos casos onde de fato não surgem novas evidências, pode ser importante mostrar ao leitor porque o autor chegou a essa conclusão. É como um teorema de matemática. Se você passar apenas o resultado adiante sem demonstrar como prová-lo, muitas pessoas podem não entender as suposições feitas para que o teorema seja válido. Ou seja, não saberão quando o resultado pode ser utilizado, e terão dificuldade de se defender de questionamentos.

Não estou falando que o jornalista deve escolher entre emitir sua opinião ou deixar que os leitores formem a deles. As duas formas de comunicação são válidas, e importantes. Porém me incomoda muito que seja difícil distinguir textos jornalísticos objetivos de jornalismo opinativo. Não vejo problema nenhum num jornalista relatar a sua opinião. Todos tem direito a uma opinião. Porém entendo que deve fazer isso de maneira clara, evidenciando que é a SUA OPINIÃO. Ao ler um texto, tem que ser possível distinguir os fatos (ou dados) da opinião do autor. Não é aceitável que o jornalista esconda a sua opinião como se fosse um fato. Se isso for feito de forma intencional, deveria ser considerado um crime. No meu post sobre viés de confirmação, entretanto, mostramos como isso pode ocorrer sem inteção; faz parte da natureza humana. Mesmo assim, jornalistas profissionais devem estar cientes que esse viés pode distorcer a visão de mundo das pessoas. Então deveriam ser extremamente cuidadosos e criteriosos para evitar que ocorra.

Eu não sou jornalista; sou estatístico. Porém tem ficado claro pra mim, cada vez mais, que um dos meus públicos-alvo são jornalistas. Porque serão eles, através dos veículos de comunicação em massa, que atingirão milhões de pessoas de forma simultânea. Se eles não entenderem os conceitos estatísticos, o resto da população não entenderá os resultados de pesquisas científicas. Jornalistas são essenciais para a civilização moderna. Têm papel importante como formadores de opinião e como voz do povo. Porém eles têm obrigações também. Deveriam agir como mediadores da informação, dos fatos. Citando Christopher W. Moore, escritor de livros sobre como mediar conflitos:

“Imparcialidade … não quer dizer que o mediador não pode ter uma opinião pessoal sobre o resultado desejado de uma disputa. Ninguém consegue ser inteiramente imparcial. O que imparcialidade … quer dizer é que os mediadores conseguem distinguir seus desejos pessoais do seu trabalho, e focar em formas de ajudar as partes envolvidas a tomarem suas próprias decisões sem indevidamente favorecer nenhum dos lados”3.


  1. HTML (abreviação para a expressão inglesa HyperText Markup Language) é uma linguagem de marcação utilizada na construção de páginas na Web. Documentos HTML podem ser interpretados por navegadores.↩︎

  2. CSS (abreviação para Cascading Style Sheets em inglês) é um mecanismo para adicionar estilo (cores, fontes, espaçamento, etc.) a um documento em HTML. Assim, quando se quiser alterar a aparência dos documentos vinculados a este arquivo CSS; basta modifica-lo sem alterar o HTML original.↩︎

  3. Na citação original, o autor utilizou imparcialidade e neutralidade como sinônimos. Retirei as menções a neutralidade pois nesse post estamos enfatizando que não são, necessariamente, a mesma coisa.↩︎


comments powered by Disqus

Voltar ao blog